Caro Fernandão,
Após mais uma derrota ridícula neste Brasileiro 2012, perdi
tempo pensando nesse time que faz inveja à gelatina Royal e, claro, me lembrei
de você.
Obviamente, não de você como o técnico perdido, acuado, com
medo de perder e que prefere ver no time os amigões de churrasco ao invés
daqueles que realmente podem contribuir mais.
Mas me lembrei daquele Fernandão lá de 2006. O capitão da
primeira Libertadores, do Mundial.
O líder, o aglutinador, o cara considerado acima da média,
tanto no profissional quanto no intelectual – obrigado, Faustão.
E, mais do que qualquer outra coisa, o goleador implacável,
temido, impiedoso.
E pensando nisso, nestes dois fernandões tão diferentes, me
ocorreu uma pergunta: e se o Fernandão de hoje fosse o técnico daquele
Fernandão lá de 2006?
A resposta é simples: na memória dos colorados, você estaria
ao lado de atacantes “ilustres” como Sabará, Pedro Verdum, Luis Claudio,
Dadinho e Anderson Lima. Lembra deles? Pois é....
E isso por uma razão muito simples: se o Professor Fernandão
estivesse à frente daquele time lá de 2006, o Fernandão Goleador não seria
goleador. Morreria de fome, assim com está morrendo o Leandro Damião.
Porque na verdade, Professor Fernandão, quem joga com três
volantões de carteirinha só tem uma ambição no jogo: não perder. E o mais
desesperador é que, quando toma um gol, como o do Coritiba e, diga-se de
passagem, por obra e graça daquele seu amigão que não sai da zaga nem por
decreto, o jogo acaba. É como se fosse um Golden Goal. Mas que só vale para o
adversário.
Agora, volte lá para 2006 e imagine que, além do Edinho
(volantão de carteirinha) e do Fabinho (volante com boa saída de jogo) o Abel
também colocasse o Ademir Kaeffer ou o Anderson e deixasse só o Alex armando.
Claro, além de puxar o Sóbis até o meio-de-campo para buscar jogo, assim como
você faz com o Forlán. Era exatamente isso o que o Professor Fernandão faria,
não é?
Sabe quantos gols o Fernandão Goleador marcaria naquela
Libertadores? Nenhum.
Porque simplesmente não há goleador que resista diante de um
esquema tão covarde, tão previsível e tão frontalmente contra o princípio
básico de um jogo de futebol que é, imagine a blasfêmia, marcar gols!
Só pra refrescar sua memória, Professor Fernandão, naquele
Inter do Abel de 2006, além do Alex e do Tinga (na época com fôlego para
marcar, armar e atacar, como no segundo gol contra o São Paulo) o time também
contava com o Jorge Vágner (armador que foi deslocado pra lateral esquerda).
Vamos combinar que a sua vida foi bem mais fácil do que está
sendo para o Damião, né?
É claro também que isso que está acontecendo hoje com o
Internacional não é apenas culpa sua. Isso seria uma injustiça. Ninguém fechou
os olhos para os erros bizarros administrativos cometidos por esta direção,
como não ter tido nunca ninguém do ramo pra comandar o vestiário, dispensar
todos os centroavantes no momento em que o Damião servia à seleção, insistir em
jogar num Beira-Rio quebrado e depressivo, renovar com o Celso Roth depois do
fiasco contra o Mazembe, contratar o Dorival, dispensar o preparador físico da
seleção brasileira para ficar com o profissional do Dorival e apostar em você,
Professor Fernandão, neste momento.
Mas sim, você também tem a sua parcela de culpa. E para mim,
é uma culpa imperdoável para um ex-atacante: a covardia que gera o medo de
ganhar.
E vamos combinar que esse não é um sentimento apropriado
para aquele Fernandão Goleador e levantador de taças. Mas que serve pra você,
Professor Fernandão.
Escalar três volantes é abdicar do jogo, é chamar a
mamãezinha, é nunca tirar a mão do ferrolho na brincadeira de pega-pega.Não
parece coisa de quem já teve o prazer de ver nos olhos do goleiro adversário o
pavor. E logo você, que cansou de ver isso de perto.
Pra encerrar, Professor Fernandão, se não for pedir muito,
ligue para o Abel ainda hoje. Cumprimente-o por estar em segundo no campeonato
que o nosso time já entregou e não esqueça de, ao final da ligação, agradecer
por ele ter sido, lá em 2006, o Professor Abel. E não o Professor Fernandão. Acredite, se não fosse ele, a sua moral como jogador poderia ser bem parecida com a sua moral como técnico: do tamanho da sua coragem.
Saudades da época em que o professor era o Abel. |